NUMA CASA AMARELADA




Não é possível uma conversação minimamente razoável com um indivíduo afetado até o tutano por uma atmosfera dominada por uma histeria coletiva. Aliás, torna-se impensável um bate-papo bem humorado nesta condição.

Sem isso, sem o tal do bom e velho senso de humor, o entendimento humano torna-se muitíssimo limitado.

Mas o que tem que ver rir com diálogo, aprendizado e conhecimento? Tudo cara pálida. Tudo. Tudo porque quem gosta de tristeza é o diabo.

Explico-me: em regra, quando perdemos, ou distorcemos, o nosso senso de humor, acabamos por perder, sem querer querendo, o senso das proporções. Desse modo, acabamos exacerbando, indevidamente, a valorização de determinadas questões e minimizando noutras tantas.

Os pequeninos, de certo modo, são assim. Grande parte do entendimento deles é fora de proporção. Quem tem filhos pequeninos, ou convive com crianças em tenra idade, sabe muito bem do que estou falando. Para eles, esperar por um quitute é um sufoco sem tamanho; perder um desenho animado ou ralar o joelho numa brincadeira, pode ser um martírio sem fim.

Por essas e outras que a educação é necessária, para ensinar os infantes a colocarem tudo em seu devido lugar de acordo com a sua medida, seja frente à realidade externa, seja diante da presença do nosso universo interior.

Conforme vamos aprendendo a ordenar a nossa alma e a perceber de modo ordenado as nuanças da vida, aprendemos, de certa forma, a rir das reações e percepções desatinadas e fora de prumo.

Aliás, basta que lembremos de uma e outra piada para vermos que aquilo que as torna risível é justamente a sua desproporção.

Por isso, tenho comigo que um dos mais significativos sinais de que um sujeito está amadurecendo é quando ele consegue espontaneamente rir de seus erros, de suas limitações e, principalmente, dos seus dramas.

Mais que isso! Rir de si sinaliza a aquisição duma grande força [moral e espiritual].

Penso e digo isso, por uma razão muito simples: numa sociedade onde o sistema educacional, a grande mídia, e as produções culturais oficiosas que, juntas ou separadas, propagandeia e reafirmam cacoetes marxistas culturais, junto com o velho politicamente corretos (o que, no fundo, dá praticamente na mesma), primando por estimular nas pessoas reações desarrazoadas, temperadas com um "Q" de indignação artificiosa, o riso, inevitavelmente, acaba se tornando amarelado, juntamente com a nossa capacidade cognitiva.

Daria até para fazermos alguns gracejos com essa situação, mas como ela é tão desarrazoada e triste, seria muita falta de noção querer fazer qualquer gracejo com essa lúgubre piada pronta.

Hora de bebericar um cafezinho.

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela, 13 de fevereiro de 2019, dia do falecimento do compositor Richard Wagner.

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