NA ENCRUZILHADA DAS PALAVRAS CRUZADAS


 Por Dartagnan da Silva Zanela


[1] Posso estar enganado, e confesso que espero estar, mas os nossos parlamentos dum modo geral, em todas as esferas dessa triste Federação, praticamente perderam a sua autoridade moral. Praticamente toda ela. Agora, o que deles restou, segue seu caminho, ladeira abaixo, perdendo a pouca importância política que eles têm.

[2] O fato de termos, na sociedade contemporânea, a proposição de que fantasias sexuais e desejos miúdos tomem o centro dos debates públicos, em si, é um claro sinal da decadência de nossa tristonha república.

E digo isso não por moralismo. Longe de mim. Que cada um viva suas fantasias em paz.

Afirmo isso por simplesmente me parecer que a elevação disso à categoria de direito e identidade cívica ser uma espécie de propina paga pelos donos do poder para massagear o ego duma sociedade que, dia após dia, mais e mais se ufana de ser escrava de seus instintos mais baixos e, consequentemente, tornando-se mais facilmente manipulável por aqueles que se encastelam nas entranhas do poder.

Tamanha é sua subserviência de muitos cidadãos que esses imaginam que o fato de os seus vícios privados serem reconhecidos como uma espécie de virtude pública os transforma, automaticamente, numa espécie de “super-homem” nietzschiano quando, na verdade, estão se transfigurando no "derradeiro homem" descrito pelo referido filósofo bigodudo.

[3] Tão perigoso quanto as utopias sentimentais são os automatismos técnicos. E o pior de tudo é que ambos se fazem presentes na sociedade contemporânea. Por isso, sejamos francos: com essas duas forças imbecilizantes de mãos dadas, e com um celular na mão, o futuro da alienação e da burrice em nossas terras está mais do que garantido.

[4] Numa sociedade de massas, numa oclocracia como a nossa, o número de votos que elegem um candidato não sinaliza, de modo algum, a legitimidade que esse tenha. Na verdade, o fato deste ou daquele candidato, utilizar-se desse tipo de medalhão para se apresentar como líder inconteste da turba (depre)cívica é um claro e cristalino sinal da sua irrevogável mediocridade.

[5] As elites econômicas do Brasil, dum modo geral, não incensam aqueles que admiram. Pelo contrário. Essa gente, de alma servil, ama bajular aqueles que inconfessadamente temem.


[6] A desfaçatez com que os cidadãos e políticos, de mentalidade revolucionária, defendem as ideias mais absurdas e apoiam os atos mais cretinos, impressiona muito mais do que a própria cretinice dos atos e a absurdidades das ideias defendidas. Tomemos, como parâmetro de reflexão, os acontecimentos dos últimos anos de nossa furibunda república e, invariavelmente, chegaremos a essa triste constatação.

[7] Intelectuais engajados e cidadãos críticos, no fundo, não passam de cortesões, de capachões que servilmente seguem todas as ordens (diretas, indiretas e até mesmo as ordens tremendamente sutis) de partidos políticos de viés totalitário.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog