NÃO É [E NÃO DÁ] PRA ENTENDER
Por Dartagnan da Silva Zanela
O poeta
alemão Johann Goethe dizia que a brevidade é a inimiga da clareza. E ele estava
montado na razão quando afirmou isso.
Sim senhor!
Mas essas palavras apenas fazem sentido quando o destinatário da missiva ou do
colóquio realmente está interessado naquilo que está sendo comunicado.
Caso não
esteja, sinto muito, mas, mesmo que utilize-se de todos os vocábulos presentes
em nossa língua, mesmo que recorramos a todas as estratégias expositivas e refinamentos
de estilo, a mensagem continuará sendo ininteligível. E assim o é pelo simples
fato de que o caipora não quer entender.
Pouco
importa o que você diga, o espírito de dois cantos sempre conseguirá encontrar
uma forma para fazer-se de desentendido, sem perder, é claro, a sua pose de
gente crítica e politicamente esclarecida. Aliás, esse tipo de gente adora, ama
ser identificada, e identificar-se, com esse tipo de epíteto.
Detalhe
importante: essa incapacidade é um traço característico de todas as almas
obtusas que, dum modo geral, são tão fechadas que acabam sendo incapazes de
reconhecer as limitações umbilicais que são impostas por elas mesmas ao seu
campo cognitivo.
Só o fato de
viverem apegados - feito mosca em excremento - a uma autoimagem tosca, já
mostra o quão frágil é o caráter dessas pessoinhas com suas preocupações ocas
com o tal do mundo melhor possível que, por sua deixa, lhes serve de
subterfúgio para justificar as atitudes mais banais que podem ser cogitadas por
uma pessoa alienada de si e do mundo. Quer dizer: por uma pessoa criticamente
crítica que ignora tudo que contraria a sua forma turva de ver o mundo, girando
em torno de seus devaneios ideológicos.
Exemplo: se
você for assuntar com um caipora desse naipe ele irá, sem pestanejar, e com
aqueles ares de suposta superioridade moral, falar que recicla todo o lixo de
sua casa, que ele só anda de bicicleta, que ele não come margarina e blábláblá.
Importante:
não estou dizendo que fazer isso - reciclagem, usar bicicleta como meio de
transporte e não comer (risos) margarina – não seja algo bom. Não mesmo. O “x”
da questão é que fazer isso, sob a justificativa áurea de que o fazemos para
salvar o mundo, não torna nenhuma, repito, nenhuma pessoa moralmente superior a
outra. Só isso. Aliás, não são poucas as pessoas ruins feito a peste que nutrem preocupações
desse gênero.
Difícil de
entender? Penso que não. Quer dizer, é fácil se estivermos realmente dispostos
a compreender que o mundo é bem maior e mais amplo do que aquilo que pensamos a
respeito dele.
Porém, para
algumas almas, envenenadas até o tutano com toda ordem de tranqueiras
politicamente corretas, a sua autoimagem é a sua própria personalidade e aí meu velho, lascou-se tudo, porque não existe nada mais movediço e superficial
que a imagem que um indivíduo constrói de si para si.
Sim, todos
nós temos uma autoimagem, mas ela não pode, nem deveria, ser o centro de nossa
personalidade, a coluna de sustentação de nosso caráter. Porém, para muitíssimas
pessoas, ela é tudo isso. E aí meu amigo, para esses pobres diabos, imagem, realmente é
tudo. Tudinho.
E tem outra:
não existe tarefa mais alienante e bestificante do que ficarmos nos preocupando
com a construção dum trem desse. Seria a mesmíssima coisa que ficarmos nos
preocupando profundamente com o papel arroz que usaremos para enfeitar um bolo
de aniversário e, ao mesmo tempo, ignorarmos por completo o recheio que será
utilizado para confeitá-lo.
O recheio,
obviamente, ninguém vê, mas é o que realmente importa, porque é o que realmente nos toca. O papel, que adorna a
superfície, todos veem, mas na hora do vamos ver, todos o ignoram porque ele
não tem substância alguma, nem sabor.
Por essas e
outras que, imagino eu, Paulo Francis dizia que apenas os idiotas procuram a
coerência. Somente esses e seus genéricos e similares são capazes de viver uma
vida postiça, agrilhoada a uma imagem tosca de si mesmo, para que todos os
demais idiotas, similares a ele, tenham uma “boa impressão” de suas pessoinhas.
Enfim, como
muito bem descrevia o velho Machado de Assis, o fingimento era, ainda é
e, ao que tudo indica, continuará sendo por muito tempo a pedra distintiva da
brasilidade, especialmente daquela fatia que se considera esclarecida pra
caramba. Fatia social essa que imagina, candidamente, que papel pintado seria sinônimo de autoridade e que inter-badalação grupal seja o equivalente a
notoriedade.
Fim de
prosa. Hora do café e dum cigarrinho de palha.
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