DONA YOLANDA SABIA DAS COISAS


Por Dartagnan da Silva Zanela



Sou um homem do mato. Quando me apresento como um caipira escrevinhante não o faço por brincadeira. Sou isso mesmo.

Por isso, por ser capiau, muitas vezes me vejo rodeado de infantes. Alguns de famílias abastadas, outros remediados e muitos de famílias humildes e todos, mesmo tendo de encarar as dificuldades da vida, as pedras que se encontram em seus caminhos, lá estão eles, brincando, rindo e sorrindo como crianças.

Entre essas criancinhas, sempre há uma e outra que são portadoras de necessidades especiais que, também, sorridentes, com aquela inocência angelical, são capazes de fazer derreter até os corações mais empedernidos. Fazem até mesmo esse ser de coração pétreo, que agora vos escreve, rir e chorar. E é óbvio que eu choro bem escondidinho. Não contem pra eles.

Vendo-os brincar, sorridentes, cheios de inocência, de molecagem e esperança, fico a matutar: se uma pessoa adepta da cultura da morte, ou simpática a ela, visse esses pequeninos, o que diria? Será que seria capaz de, em nome do maior interesse da criança, imaginar que elas poderiam não existir? Será que seriam capazes de dizer que a vida seria melhor e mais fácil sem a presença desses pequeninos? Teriam a coragem de dizer que a não existência deles seria um ato de misericórdia para com eles? Será que os adeptos da cultura da morte refletem, com serenidade, sobre as consequências de suas ideias, fruto de sua concepção de mundo?

Não sei dizer o que diriam. Sei apenas que é muito fácil revogar o direito a existência alheia. Também sei que toda solução que pareça muito fácil não é boa.

Enfim, lembro-me que minha avó paterna, Dona Yolanda, sempre me dizia, na sua simplicidade, que quando a gente não mais entende que a vida é um dom nós deixamos de ser gente. Não que a gente vire bicho, dizia-me ela. A gente acaba agindo de modo pior. Bem pior.

Pois é. Mais uma vez, encerro, e não é pra tomar café.

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