O NOVO E PÉRFIDO MANDAMENTO
Por
Dartagnan da Silva Zanela
Lembro-me que,
certa feita – isso já faz uns dez anos – havia perguntado a uma turma, em meio
a uma explicação, qual era o primeiro mandamento do decálogo. Houve um
silêncio. Um longo e constrangedor silêncio. Fiz-me de tongo, disse qual era e
continuei com a minha preleção.
O primeiro,
naturalmente, é o mais importante de todos os mandamentos, porque todos os
demais são entendidos e, deveriam ser, praticados à luz dele.
Amarás a Deus sobre
todas as coisas. Mandamento esse que lembra-nos, muito, uma passagem dos Upanishads Hindus, que dizem, laconicamente, que não há direito superior ao que é devido à Verdade.
Doravante, se
perdemos o devido respeito pela verdade, tudo o mais perde a sua razão de
ser e, consequentemente, acaba se pervertendo de fio a pavio.
Bem, na sociedade
atual, quando se fala no tal do respeito, todos nós sabemos que esse não refere-se ao devido respeito à verdade e muito menos ao amor apropriado a
Deus, mas sim, do “respeito humano”. Ou seja: vaidade e orgulho ferido.
Detalhe: quando
colocamos o respeito humano acima da devida reverência à verdade, com o tempo,
passamos a imaginar que nossos desejos, delírios e fantasias seriam a própria
verdade. Quando colocamos o respeito humano acima do amor devido a Deus, com o
tempo passamos a elevar, maliciosamente, o amor próprio, a egolatria e o
egocentrismo à categoria duma divindade.
Isso mesmo. Num mundo
onde as pessoas esclarecidas e diplomadas não consideram mais importante saber
qual é o primeiro mandamento do Decálogo, passa a viver, sem querer querendo, terminam
por viver de acordo com a Lei de Thelema. Ou seja: faça o que tu queres, pois isso seria toda a lei.
Por isso e por
fim, não seria exagero dizer que o primeiro mandamento do decálogo pós-moderno
poderia ser traduzido nos seguintes termos: “amaras a si mesmo acima de qualquer
coisa e exigirás que todos o amem da mesma forma”.
Por fim, fazendo
isso, chegará um tempo em que não mais saberemos amar e nos tornaremos
incapazes de reconhecer as mais óbvias e gritantes verdades. Quem viver verá.
Espere aí! Já estamos vendo.
Triste. Sei disso. Mas é mais ou menos assim que caravana pós-moderna segue em sua jornada para o brejo.
Ponto. Fim de
causo. Hora do café.
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