COM HERÓIS SE CONSTRÓI UMA NAÇÃO
Por Dartagnan da Silva
Zanela
Onde está o Stan Lee? Sempre que
eu e meus filhos assistíamos um e outro filme da Marvel essa era a pergunta de
ouro. Onde estaria o velhinho? De certa forma competíamos para ver quem iria
ser o primeiro a identifica-lo na película. Pois é, mas essa fase acabou.
Acabou acabado, como dizem os infantes.
Sim, terminou, mas um baita
legado ficou. Não sou um especialista em cultura pop, mas sou um entre muitos
que muito deve aos heróis da Marvel – e bem como aos da DC – pelo que aprendi
com eles, com seus dramas humanos e, principalmente, com os valores que essas
personagens representam no imaginário moderno.
Aliás, figuras como ele, Stan
Lee, foram e são muito mais significativas para a educação do que figurões como
Paulo Freire, Piaget e tutti quanti.
Não digo isso por maldade ou por
alguma espécie de ranço. Não é nada disso. O “x” da questão é que as aventuras
dos heróis criados por Stan Lee nos ensinam valores perenes que literalmente deixaram
de ser ensinados pelas instituições de ensino e, pasmem, pelas famílias.
Existem exceções. Sim, mas são isso. Exceções.
Podemos dizer, sem pestanejar,
que as aventuras dos super-heróis da Marvel são uma verdadeira trincheira de
resistência da “democracia dos mortos” descrita e defendida por G. K.
Chesterton.
Valores perenes como auto
sacrifício, senso de dever, amor ao próximo, destemor diante da morte,
temperança, autodomínio, perseverança, altivez, magnanimidade, perdão, honra,
justiça, liberdade, enfim, se formos listar e comentar cada um dos valores que
nos foram e nos são ensinados pelas aventuras da Marvel poderíamos com
tranquilidade e folga escrevinhar um baita livro, mas, como vocês sabem, não é
esse o nosso intento como essa breve missiva.
O que queremos é simplesmente
lembrar que as histórias em quadrinhos, junto com a grande literatura, com o
cinema e tutti quanti, apresentam, para aos seus apreciadores, possibilidades
de realização humana que passam a ser desejadas por nós, amadas por muitos,
alimentando a nossa imaginação, modulando e inspirando as nossas ações, sejam
elas grandes ou pequeninas.
Ora, qualquer um que tenha lido,
assistido aos desenhos animados ou aos filmes do Homem-Aranha jamais se
esquecerá do conselho dado pelo tio Ben Parker ao Peter: “com grandes poderes
vem grandes responsabilidades”. Esse, na verdade, é um apotegma de Thomas
Jefferson. Independente disso, todo o
drama vivido pelo Parker versa sobre isso, sobre o tal do senso de dever, do
compromisso com a comunidade e com a família.
Parêntese. Sim, os engraçadinhos
irão dizer que não há possibilidade de tornarmo-nos como ele, um herói lançador
de teias e blábláblá. Se o caboclo ao ler uma história em quadrinhos e apenas
pensar nisso é porque, de fato, é um tapado. Só isso. Fecha parêntese.
Ora, as aventuras do Homem-Aranha
e de qualquer super-herói não tem nada que ver com os poderes em si, mas sim,
com os dramas humanos vividos por eles que, ao seu modo, são análogos a muitos
dramas que cada um de nós viveu, vive e, quem sabe, um dia pode acabar vivendo.
Dramas humanos similares a muitos
que nós vivemos, porém, com respostas distintas daquelas que frequentemente
encontramos; aliás, as respostas apresentadas por eles é muitíssimo mais
aquilatada que aquelas que nós geralmente damos aos nossos problemas e, por
isso mesmo, nos educam, nos mostram o quão mesquinhos somos e como podemos, e
devemos, nos tornarmos melhor.
Respostas essas que passam a
habitar o nosso imaginário como uma nova possibilidade humana. Possibilidade
essa muito maior, mais digna e boa que a mesquinhes, que a mediocridade que
polui a sociedade e que se faz presente no coração de cada um de nós.
Um exemplo digno de menção sobre
isso que estou procurando chamar a atenção é a história dum incêndio que o
correu na periferia de Joinville a mais ou menos uns dez anos atrás. Nele,
todos os casebres estavam sendo consumidos pelas chamas e, num deles, havia
ficado preso uma criancinha que, devido a intensidade do fogo e a fragilidade
dos barracos, acabou impossibilitando que os bombeiros ou qualquer pessoa
ousa-se resgatar o infante que, naquela altura, estava condenado a uma morte
cruel.
Lá pelas tantas, eis que aparece
um garotinho de nove anos de idade que intrepidamente adentra o barraco pela
janela e resgata a criancinha. O garotinho em questão estava vestido com uma
camiseta do Homem-Aranha e usando uma máscara do mesmo.
A mãe, sem saber o que dizer e o
que fazer, ofereceu ao garotinho uma recompensa pelo feito. Cinquentão. O
pequeno, sem pestanejar, disse: “O Homem-Aranha não faz isso por dinheiro”.
Ponto.
Vejam só como são as coisas. Esse
pequeno fez algo que nenhum adulto imaginava possível, ou desejável, mas ele o
fez. E o fez porque aprendeu com o Stan Lee que aquilo não apenas era possível
e desejável. Mais do que isso! Fazer aquilo era algo que deviria ser feito.
Ele não queria dinheiro, nem
fama, nem likes, nem seguidores, nem mudar o mundo. Ele apenas sabia que devia
fazer o que era certo, como o seu amigo de todas as horas, o Homem-Aranha,
sempre procurava fazer.
É. Quantas pessoas tiveram suas
vidas salvas por pessoas inspiradas pelas personagens de Stan Lee? Quantas
pessoas fizeram a diferença na vida de outras pessoas devido ao que aprenderam
com esse velhinho? É difícil estimar, mas instigante pensar no assunto. Ah! Se
é.
O próprio Stan Lee foi inspirado
por outros para se tornar quem ele se tornou.
Segundo ele, o seu herói
preferido era o Batman. Isso mesmo. Ele gostava tanto dele que sempre dizia que
gostaria de tê-lo criado. Pois é, talvez por isso ele tenha criado tantos
heróis. Mas a sua maior fonte de inspiração era Nosso Senhor Jesus Cristo e,
bem provavelmente, ele deve estar agora com Ele na Pátria Celeste junto ao
trono dos justos.
Enfim, descanse em paz Stan Lee
e, se um dia for permitido a esse indigno escrevinhador, gostaria de estar aí
contigo, com muitos e com Ele, Nosso Senhor, ouvindo seus causos e tomando
muitas xícaras de café.
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