HAVIA UMA PEDRA NO MEIO DA LINHA
Vinícius de Morais dizia que
escrever prosa é uma arte ingrata. Talvez o seja. Ela tem lá os seus momentos
enfadonhos, não tem como negar; mas também, como tudo em nossa porca vida, há
aqueles dias em que o escrevinhar em prosa apresenta-se como um verdadeiro
deleite celestial para aqueles que escrevinham e, ao seu modo, para todos os
demais que degustam o fruto desse labor.
Lembrei-me também do que certa
feita havia dito o historiador inglês Paul Johnson, em seu livro “Al diablo con
Picasso y otros ensayos”, onde o mesmo afirmava, jubilosamente, que não há
maior alegria no mundo do que ter um espaço para poder escrever e publicar
sobre o que você desejar, do jeito que quiser para aqueles que desejarem lê-lo.
Seja como for, escrever é uma
forma de deleite tão particular quanto ler ou ouvir música (música meu caro,
música); e, naturalmente, este acaba não apetecendo o paladar de uns e causando
náuseas em outros. Isso, também, faz parte do borogodó.
Ler, ouvir música e, por certo,
escrever, exige de cada um de nós uma porção de atenção que apenas é possível
ser ofertada quando há amor em nosso coração, amor pelo objeto de nossa
contemplação e, é claro, uma boa dose de senso de humor, pois quem não se
diverte, inevitavelmente, se perverte. Aliás, quem não sabe se divertir,
termina por se destruir, porque a ausência do senso de humor leva a perda do
senso das proporções.
Sim, sei que o dito popular
afirma que gosto não se discute. Mas isto não significa que não devemos dirimir
em nosso íntimo sobre aquilo que é uma produção de bom gosto daquelas que
seriam de mau gosto.
Penso que seria justamente aí que
reside, em parte, a sofrência indicada pelo nosso amado poetinha e, em parte, a
boniteza apontada pelo historiador inglês.
Mas se a vida é assim, com seus
regozijos e penúrias, por que na prosa seria diferente? Não tem como. E não
apenas faz parte da vida, como é um instrumento poderoso para registrar a vida
como ela é e para nos ensinar a vivê-la duma forma, como direi; mais sábia, e,
nesse traçar cambaleante de linhas, palavras e letras, nem sempre se consegue o
efeito pedagógico desejado.
As razões para isso são muitas e,
todas elas, inerentes à condição humana.
Por isso e por fim, imagino que
este exercício solitário de ler e escrever seja composto por momentos luminosos
onde temos a possibilidade de melhor nos conhecer, por estarmos dispostos a
aprender; caso contrário, acabaremos numa sofrível situação que, de modo
triste, acaba colocando mais um prego no caixão de nossa voluntariosa e soberba
ignorância.
Fim. Hora dum bom café.
Escrevinhado por
Dartagnan da Silva Zanela, em 08 de fevereiro de 2019, natalício do escritor Júlio
Verne.
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