LEVANTE A CABEÇA E NÃO CHORE
Palavras machucam? Não amiguinho.
Não machucam. Palavrões ofendem? Não meu querido. Não ofendem não. Nós é que
nos permitimos ser fracos, frágeis, ao ponto de nos sentirmos ofendidos, de
ficarmos dodói com um dito grosseiro, jocoso ou, simplesmente deselegante.
Não estou dizendo aqui, como
dizem os populares, que seria bonito ser feio. Não é nada disso. O que friso, ou
o que pelo menos tento fazê-lo, é que grande parte dessa parafernália
politicamente correta, que essa mania de ditar o que pode e o que não deve ser
dito, acaba por tolher a nossa percepção da realidade e, consequentemente, a fragilizar
a nossa personalidade, tornando os indivíduos mais susceptíveis a manipulações
de toda ordem.
Se nós não mais podemos dizer o
que vemos do modo como vemos, porque estamos sendo patrulhados e melindrados
pelos sectários do politicamente correto, com o passar do tempo, além de
inibirmos nossa percepção, acabaremos nos tornado pessoas inseguras que
necessitam duma confirmação de um agente externo a nossa consciência. Ou seja:
deixamos de confiar nos nossos olhos, por medo de que isso não seja conveniente para a
forma como as patrulhas ideológicas querem que vejamos.
Não apenas isso. Se com o tempo
passamos a denominar as nossas percepções com os cacoetes e jargões que nos são
sugeridos através dos mais variados meios, com o tempo vamos perdendo o senso das
proporções e, como já havíamos dito noutras ocasiões, se o perdemos, ou o
deformamos, acabamos por nos tornar pessoas extremamente sensíveis e,
consequentemente, infantilizadas, bem do jeitinho como o totalitarismo nosso de
cada dia quer que os indivíduos sejam, pois, se nos agravamos com tudo, o
Estado e seus tentáculos irão ter mil e uma justificativas para se apresentar
como sendo o nosso mediador entre os infernos criados por nossas sensibilidades
inflamadas.
Por fim, se nos encontramos com o
nosso senso das proporções mutilado, se nos convertemos em criaturinhas
hipersensíveis que não sabem lidar com uma ofensa e, por isso, carecemos, em
tudo, de uma referência externa que nos dê um sentimento mínimo de segurança
emocional, acabamos, sem nos dar conta, nos tornando numa perfeita marionete
nas mãos de manipuladores cínicos e maliciosos.
Podemos até chamar essa patacoada
toda, tão celebrada por muitos, sob os mais variados epítetos retóricos, como
criticidade, alteridade, diversidade e tutti quanti, mas, no fundo e na real,
isso é o que é: uma sutil destruição da autonomia da consciência individual.
Escrevinhado por
Dartagnan da Silva Zanela, 13 de fevereiro de 2019, natalício do escritor
Georges Simenon.
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