DO PÓ AO PÓ
Há muitas coisas na vida que são fáceis de serem feitas;
outras, nem tanto. Uma dessas coisinhas que somos capazes de realizar com
grande facilidade é esquecermos da pequenez de nossos projetos, e planos pessoais,
diante de toda magnificência da criação.
Sim, a soberba, desde o princípio dos tempos, vê-se
encalacrada em nossa miserável alma e, por isso, tornamo-nos susceptíveis a
querermos usurpar o lugar de Deus das maneiras mais variadas e maliciosas
pensáveis. E bota maliciosa nisso.
A soberba que nos habita, e nos assalta frequentemente, infla
nossa alma com um cadinho de conhecimento raso em misto com um sentimento de
indignação epidérmico, seletivo e, num estalar de dedos, nos tornamos um
indivíduo que crê candidamente que sabe o que deve ser feito para que o mundo
se torne livre de todas as injustiças, mas que, ao mesmo tempo, não sabe e não
quer saber, o que deve ser feito para nos tornarmos uma pessoa minimamente
melhorzinha.
E o que torna esse fenômeno mais interessante é que quando
somos possuídos por essa mentalidade, passamos a justificar os nossos atos não
por aquilo que, de fato, estamos fazendo, mas sim, tendo em vista o que, hipoteticamente,
um dia poderíamos realizar. Ou seja: tudo, até as coisas mais torpes, são
passíveis de serem justificadas por essa ilusão gerada por uma migalha de
conhecimento misturada com um punhado de simulacros de boa intenção que, como bem
nos ensina Santa Madre Tereza de Calcutá, abunda no inferno.
Não precisaria nem dizer, mas o farei mesmo assim: esse
terreno pantanoso é um solo propício para o cultivo de todas as ideologias que,
pretensamente, querem com sua artificiosa explicação - feita com meia dúzia de
jogos de palavras - substituir os fundamentos mesmos da realidade,
relativizando a percepção das verdades primeiras da existência e pervertendo a
compreensão dos fins últimos da vida.
Quando vemos pessoas, dos mais variados extratos sociais, ostentando
uma vida desregrada, ou praticando atos autodestrutivos, ou colocando bens
materiais e líderes políticos na posição duma deidade [de barro, é claro] - indivíduos
esses que fazem dessas formas de idolatria um projeto de vida - é porque essas
pobres almas foram envenenadas até o tutano pela peçonha ideológica que pode
adentrar a alma de qualquer um de nós através da ferida aberta pela soberba que
nos habita.
Por isso, penso cá com meus alfarrábios, com meus joelhos
dobrados, que o tempo quaresmal, com suas piedosas práticas penitenciais, entre
outras coisas, pode nos auxiliar no tratamento dessas feridas abertas que, sem
o auxílio da Graça divina, não podem ser tratadas e Ela, a Graça, não agirá
efetivamente em nosso coração se nós não estivermos dispostos a colaborar e, o
primeiro passo nessa direção, é reconhecermos que nossas ideias, ideais e
ideologias não podem e não devem ser colocadas por nós no lugar de Deus. Jamais.
Penso também que seria mui interessante compreender que, ao
procedermos deste modo, não estamos nos elevando e, como diz a militontada, nos
libertando dos grilhões opressores. Muito pelo contrário. Seguindo por essa via
acabamos nos tornado escravos de nossos desejos e sentimentos desordenados, nos
reduzindo a serviçais dos autores das ideias, ideais e ideologias que
acreditamos serem uma espécie de “novíssima revelação”. Ledo e terrível engano.
Enfim, lembremos que somos pó; não nos esqueçamos que quem
nos liberta e nos eleva é Cristo Jesus e não as ideologias políticas que querem
calar o Santo Evangelho, banindo o acesso Àquele que é o caminho, a verdade e a
vida.
Ponto. Fim de causo e hora do café.
Escrevinhado por
Dartagnan da Silva Zanela, em 06 de março de 2019, quarta-feira de cinzas.
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